sexta-feira, 12 de abril de 2013

Educação de faz de conta!


Escolas públicas do ensino médio fazendo rodízio entre os alunos, porque não há professores para todas as disciplinas. Simplesmente, ninguém quer dar aulas e nem pode querer, se estiver em seu juízo perfeito. No Brasil, descontada a piada, a educação é um sacerdócio porque fazemos voto de pobreza. Além disso, avaliadores do ENEM são capazes de atribuir nota 560 a uma receita de miojo colocada em uma redação. O que isso quer dizer? Quer dizer que a educação é um faz de conta; no Brasil seremos o que já somos, andando aos trancos e barrancos, enquanto a educação for tratada com cinismo e burrice. Burrice porque nem o governo, nem as elites dominantes conseguem ver a lógica ululante: sem educação não há qualificação técnica e científica e isso, no século XXI, é sinônimo de exclusão do mundo que realmente importa.
O antropólogo e senador Darcy Ribeiro dizia que aqui os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem. Só faltou matá-lo por isso, como se tivesse ofendido a santidade de nossas avós.
Mas não é a mais pura verdade? Quais são os resultados positivos que temos para apresentar? Claro, há os totalmente analfabetos que já foram promovidos à honrosa posição de analfabetos funcionais e muitos serão advogados, médicos, engenheiros – e outros tantos serão formados nas universidades públicas. Alunos que jogam baralho no horário de aula, na UNIR e em outras federais, indicam o que? Que Darcy Ribeiro estava errado? Nosso futuro depende do sucesso desses profissionais que fizemos de conta para ensinar e educar.

Nem adianta falar do que deu certo em termos de experiências bem sucedidas em educação no país, porque é a exceção da exceção. Então, temos de nos concentrar na realidade – exatamente a realidade que não queremos – e no que fazer. O que fazer? Este é o título de um livro escrito no calor da Revolução Russa de 1917, enquanto debatiam os direitos fundamentais dos trabalhadores e um deles, por óbvio, considerava-se a educação. Contudo, já era a educação um direito fundamental na Revolução Francesa, de 1789. Os revolucionários burgueses e os trabalhadores tinham essa convicção: sem educação, a própria revolução não iria vingar. Sem que o povo estivesse educado para entender o que se diza e o que queriam seus líderes, o poder perderia legitimidade rapidamente por falta de coesão e os ideais nunca chegariam às bases políticas. No mesmo período fundaram as primeiras escolas públicas e foram lançados os livros didáticos. Esses livros tinham por objetivo padronizar o discurso da revolução libertária de 1789, para que um único discurso de liberdade fosse implementado e assim estivesse igualmente controlado pelo Estado. Logo se vê que não há lugar os bobos e ingênuos, muito menos para os analfabetos. No entanto, séculos depois, com tantas teorias, metodologias e didáticas revolucionárias, ainda não fizemos a lição de casa; não cultivamos a educação como um direito fundamental, mas tão fundamental que sem ele não há sentido sequer para falar em direito. Você só saberá o que é direito (e não o que é “o direito”) quando for educado.
Antes de ser educado, na melhor das hipóteses, terá nutrido em si mesmo o sentimento de uma injustiça praticada e o desejo de cessar ou corrigir os danos sofridos. Mas, faltará saber o que fazer. Para saber e para fazer o que deve ser feito é preciso ser educado. Neste caso, a educação para o direito, como se viu na demonstração, não é só uma educação escolar. Também é escolar, mas acima de tudo uma educação para a revelação das injustiças que acometem a vida comum do homem médio. Trata-se, portanto, de uma educação voltada à práxis, à transformação da realidade e isto, por sua vez, será viável quando tivermos uma educação formal e escolar de qualidade, com conteúdo, e depois quando soubermos o que fazer de bom com essas informações e bagagens para exercer a vida pública. A educação de qualidade deve nos preparar para “exercermos a consciência na vida pública” – fora disso é um faz de conta.

Texto publicado no jornal eletrônico Gente de Opinião

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