A informação correu como rastilho de pólvora, na manhã desta
quinta-feira: caso seja preterida no próprio partido, a governadora
Rosalba Ciarlini (DEM) renunciaria ao governo do Rio Grande do Norte,
entregando a gestão aos adversários do DEM, no caso, o vice-governador
Robinson Faria (PSD) e o PT. Segundo fontes, ligadas a Carlos Augusto
Rosado (marido de Rosalba e secretário-chefe do Gabinete Civil), que
pediram sigilo, seria uma espécie de vingança do casal ao fato de estar
sendo massacrado no DEM do senador José Agripino Maia, que trabalharia
para naufragar a possibilidade de reeleição de Rosalba com objetivos
nítidos de fortalecer o palanque de Henrique Eduardo Alves (PMDB) e
Wilma Maria de Faria ao governo e ao Senado, respectivamente.
Há cerca de trinta dias, os bastidores da política foram tomados pela
informação de insatisfação do casal que administra o Estado para com o
próprio partido administrado pelo senado José Agripino Maia. Mesmo em
dificuldades administrativas, Rosalba esperava um gesto político de
Agripino pelo fato de ter permanecido no DEM quando foi convidada a
migrar para o PSD. O gesto em favor de Agripino significou dificuldades
para o governo e afastamento da base da presidente Dilma Rousseff.
Carlos Augusto, na oportunidade, teria dito: “Não trocarei uma
amizade de mais de 40 anos que tenho com José Agripino justamente
deixando o DEM no momento que ele assume a presidência”. Rosalba, assim,
permaneceu no DEM e teria comido “o pão que o diabo amassou”, por falta
de acesso aos cofres federais, dependendo, para colher convênios e
recursos, da interveniência dos deputados Henrique Alves (PMDB) e João
Maia (PR) e do ministro da Previdência Garibaldi Filho (PMDB).
REELEIÇÃO
Embora jamais tenha admitido publicamente o desejo de se candidatar à
reeleição – a primeira manifestação dela foi durante a reunião interna
do DEM, na segunda-feira passada -, Rosalba sempre trabalhou e desejou
ser candidata. No entanto, está encontrando dificuldade por causa da
articulação do atual presidente da Câmara, que quer ser candidato a
governador. Tendo enfrentado um governo de dificuldades, a governadora
não se envolveu em escândalos administrativos e apostou nisso como
diferencial. Abandonada por aliados, ela esperava, ao menos, o apoio do
próprio partido, porém, este tem sido negado. Por 45 votos a 10, os
membros do diretório estadual decidiram, na última segunda-feira, que o
DEM irá priorizar a disputa proporcional. A consequência dessa posição é
o apoio às candidaturas de Henrique e Wilma, arquirrivais, hoje, de
Rosalba Ciarlini.
Na avaliação do cientista político Antonio Spinelli, ao negar a
legenda a Rosalba e levá-la para o palanque de Henrique e Wilma,
Agripino leva a efeito um projeto pessoal que visa à reeleição dele em
2018 ao lado de Garibaldi. A ideia seria colocar no Senado em 2014 a
única personalidade política do Estado que hoje representaria uma ameaça
à reeleição futura de Agripino: Wilma de Faria. Se a ex-governadora for
eleita agora para o Senado, a representação política do RN na Câmara
Alta ficaria composta por Garibaldi, Agripino e Wilma, os três
ex-governadores e ex-prefeitos de Natal. Em 2018, Agripino e Garibaldi
disputariam sem concorrentes de peso suas respectivas reeleições. Na
oportunidade, Wilma estaria apenas na metade do mandato, de oito anos.
No DEM, a não candidatura de Rosalba é tida como certa. Depois da
derrota no diretório, segunda passada, a situação da governadora não
deverá ser modificada quando da convenção, no próximo dia 15. A reunião
da convenção deliberará a homologação da proposta de coligação aprovada
pelo diretório. Também abordará a escolha de candidatos às eleições
majoritárias e proporcionais de 2014, bem como sorteará os números dos
candidatos. Rosalba, que já enfrenta dificuldades administrativas,
poderá sair da convenção massacrada, abandonada pelo próprio partido que
a colocou no poder.
Ney Lopes: “Rosalba sente-se humilhada por um ato deplorável”
Defensor da candidatura à reeleição da governadora Rosalba Ciarlini, o
ex-deputado federal Ney Lopes de Souza (DEM) disse que a governadora
foi “humilhada” pelo “ato deplorável” do próprio partido, que rejeitou,
no âmbito do diretório estadual, a proposta de candidatura à reeleição.
“Ela saiu da reunião humilhada, chorou muito, está chocada, pelo ato
deplorável”, disse, em entrevista ao Jornal de Hoje.
Segundo Ney, a governadora tem compromissos com o Rio Grande do
Norte. Sobre a possibilidade de ela renunciar ao cargo, ele disse se
tratar de uma posição pessoal da governadora, que está à frente do
Estado desde janeiro de 2011, quando derrotou, no primeiro turno, o
então governador Iberê Ferreira de Souza (PSB).
“Não estou sabendo de possível renúncia da governadora. Não falei com
ela depois que ela viajou a Brasília. Creio que não. Na minha ótica,
não”, disse Ney, atento à informação que surgiu nos bastidores da
política estadual, de que Rosalba poderia renunciar como resposta ao
partido, que quer sepultar a possibilidade de ela se candidatar à
reeleição.
“Acho que a governadora também tem a responsabilidade de cumprir o
mandato dela”, continuou Ney, que está cotado para ser, inclusive,
candidato a deputado federal novamente nessas eleições com o apoio de
Rosalba. “Acredito que essa informação não procede, nem tem fundamento.
Acho que Rosalba irá até o fim do mandato”, afirmou.
Posse de Robinson modificaria quadro eleitoral de 2014
Se vier a assumir com a renúncia de Rosalba, o vice-governador
Robinson Faria teria chance de reverter a posição de desvantagem na
contabilidade eleitoral. Atualmente, contando apenas com a minúscula
estrutura da Vice Governadoria, Robinson enfrenta o deputado federal
Henrique Alves, detentor de mega estrutura da Câmara dos Deputados.
O poder de articulação e convencimento do presidente da Câmara é
infinitamente maior que o da Vice Governadoria – a começar pelo
orçamento e a terminar pela influência política. Entretanto, caso assuma
o governo do Estado, Robinson ganharia em poder de convencimento, haja
vista a possibilidade de acomodar aliados. Assim, o vice-governador
poderia trabalhar o apoio de várias lideranças, inclusive, o que
poderia, em última análise, modificar a formatação das chapas já
montadas.
Outra mudança de cenário advinda com eventual posse de Robinson no
governo do Estado seria o fato de que Robinson, como governador, seria
candidato não mais ao primeiro mandato, mas à reeleição, uma vez que
iria para as urnas em outubro no exercício do mandato. Assim, seu poder
de barganha na montagem da chapa seria infinitamente maior, tendo em
vista que ele poderia negociar o seu vice com partidos como o próprio
PMDB, que poderia indicar o deputado estadual Walter Alves como vice,
com o compromisso de ser o candidato a governador nas eleições de 2018.
A eventual posse de Robinson como governador do Rio Grande do Norte
poderia ainda mudar o quadro de candidaturas majoritárias
pré-estabelecido. Com Robinson fortalecido, Henrique Alves poderia rever
a condição de candidato a governador. A atual candidata ao Senado,
Wilma de Faria, poderia desistir de ser candidata ao Senado para
disputar o governo contra Robinson com o apoio do PMDB. Wilma também
poderia desistiria da parceria com Henrique para se aliar a Robinson,
disputando, ao lado do governador, o mandato no Senado, criando uma nova
correlação de forças políticas no Estado.
Em suma, tudo é possível com a renúncia de Rosalba. Tal posição teria
o condão de modificar o quadro eleitoral, inclusive, prejudicando o
projeto de candidaturas proporcionais do DEM, que teria dificuldade em
fechar uma aliança favorável à reeleição dos atuais deputados estaduais e
federal do partido.
do portal JH
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