Não adianta abrir a torneira. O gesto simples e corriqueiro para a
maioria das pessoas foi subtraído da rotina de milhares de
norte-rio-grandenses. Há mais de um mês, o sistema de abastecimento de
pelo menos nove cidades entrou em colapso. Com mananciais secos,
gestores municipais são obrigados a impor políticas de
contingenciamento. Em Ipueira, a 305 quilômetros de Natal, o “vale água”
faz o controle do fornecimento de 40 litros de água potável por dia.
Enquanto outros municípios correm o risco iminente de enfrentar situação
idêntica, a execução de obras de infraestrutura hídrica sob
responsabilidade do Estado e União caminha em letargia.
O
colapso no abastecimento é uma das consequências mais graves da estiagem
que devasta o Rio Grande do Norte desde o ano passado. Inicialmente, a
produção agrícola foi limada. Não demorou muito e o gado definhou até a
morte. Cemitérios de animais se espalharam por várias cidades. Dados da
Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faern) apontam redução
de 70% na produção de alimentos e perda do rebanho superior a 40%.
Sem chuva e sob sol forte, os reservatórios não resistiram à evaporação.
O volume d’água caiu vertiginosamente e o colapso anunciado foi
inevitável.
Períodos de estiagem fazem parte da história do
Nordeste. O primeiro relato de uma seca na região nos remete ao período
entre 1583 e 1585. O padre jesuíta português Fernão Cardim registrou
“uma grande seca e esterilidade na província. Cinco mil índios foram
obrigados a fugir do sertão pela fome, socorrendo-se aos brancos”.
Ao
longo dos anos, episódios infortúnios se sucederam. Assim como os
períodos de estiagem, o anúncio de obras de infraestrutura hídrica
também são periódicos. No Rio Grande do Norte, mesmo com a criação do
Comitê Estadual para Ações Emergenciais de Combate aos Efeitos da Seca,
no ano passado, o cenário atual põe em xeque a efetividade das ações. Os
efeitos aguardados por aqueles que moram no semiárido ainda não são
perceptíveis.
A construção da adutora do Alto Oeste – obra orçada em R$ 154 milhões e
com 288 quilômetros de extensão – se arrasta desde 2010. A última
previsão era de conclusão do projeto em julho passado. O titular da
secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh),
Leonardo Rêgo, afirma que será necessário mais um mês para concluir a
obra. “Nossa expectativa é a de que tudo esteja pronto em outubro”.
Semarh
e Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) tentam,
mais uma vez, emplacar outro projeto que nunca saiu do papel. Trata-se
de uma adutora expressa que ligaria a barragem de Santa Cruz ao açude de
Pau dos Ferros. Devido à situação de emergência – Pau dos Ferros tem
apenas três meses de abastecimento garantido pela Caern – os órgãos
querem modificar o projeto original. A ideia é construir uma adutora de
engate rápido. “O projeto está com a Caern. Eles vão enviar para o
Ministério da Integração [MI] para tentar assegurar recursos”, explica
Rêgo.
O projeto da adutora expressa não foi aceito pelo MI
inicialmente. O Governo Federal via a obra como desnecessária, pois a
expectativa era a de que a transposição do rio São Francisco resolvesse o
problema de abastecimento na região. A transposição não foi finalizada
e o cenário piorou. Vale lembrar que a maior obra em curso dentro do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está atrasada no RN. Em maio
passado, o titular do MI, Fernando Bezerra, anunciou a licitação dos
lotes no Estado para agosto, o que não aconteceu.
Também em
atraso, está a licitação para obras de recuperação de quatro grandes
açudes no Estado. As intervenções foram anunciadas em maio. O projeto é
de responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(DNOCS). Até o momento, sequer os projetos executivos foram iniciados.
“A licitação para essa parte será encerrada próxima semana. As obras
devem começar próximo ano”, disse Emerson Fernandes, diretor do órgão.
fonte tribuna do norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário