Organizações Não Governamentais (ONGs) de proteção animal no Rio
Grande do Norte, registradas ou não, se unem em manifesto contra o abate
e consumo de cerca de 600 jumentos retirados das estradas por policiais
rodoviários. A proposta de destinar a carne de jumento para a
alimentação de presidiários é do promotor Sílvio Ricardo Brito, da 2ª
Promotoria de Apodi. (Clique Aqui e saiba mais).
Essa proposta será discutida nesta quinta-feira, dia 13, durante um
almoço no município de Apodi. Segundo afirmam as organizações, o consumo
da carne sem os devidos cuidados pode causar doenças ao ser humano e
também a extinção dos animais.
Segundo os veterinários e membros da ONG mossoroense Defesa da
Natureza e dos Animais (DNA), Kátia Regina e Kléber Jacinto, a carne do
jumento pode ser sim consumida, mas não da forma como está sendo feita,
sem manejo e cuidados adequados. Além disso, existe o risco da extinção.
A veterinária explica que diferente de outros animais usados para o
consumo humano como a vaca e cabras, que estão prontos para o abate em
poucos meses, um jumento pode ser abatido após três anos, e também a
gestação dura muito mais. E garante que não é economicamente viável a
criação em massa desses equinos para alimentação.
Os protetores questionam as condições em que se encontram esses
animais que serão usados no almoço e posteriormente na alimentação dos
presidiários e crianças. "São animais capturados nas estradas em
diversas condições, não se sabe o histórico de doenças do animal",
ressalta Kátia.
Além disso, os protetores afirmam que em contato com o possível
veterinário responsável pelo cuidado e abate dos 600 jumentos, o mesmo
confirmou que foi exonerado do cargo no município de Apodi e que por
isso não é o responsável técnico pelos animais.
Kléber Jacinto explica ainda que os animais capturados pela entidade
de proteção, responsável pelo recolhimento de mais de 600 animais,
criada pelo promotor Sílvio Brito em parceria com as polícias
rodoviárias Federal e Estadual são enviados para a Fazenda do senhor
Eridalvo de Jesus, e que este último confirmou não ter recebido apoio do
poder público.
O dono da fazenda também teria confirmado que não tem nenhum veterinário enviado pela promotoria para cuidar dos animais.
Ainda de acordo com os protetores, existe um laudo técnico feito por
uma equipe de professores da Universidade Federal Rural do Semiárido
(UFERSA) e que ainda não teve o resultado divulgado. No entanto, eles
afirmam que os veterinários que foram ao local para examinar os animais
para fazerem o laudo, adiantaram em conversa que os jumentos estão em
condições inadequadas. "São animais vivos, mortos, doentes, sadios,
recém-chegados, todos juntos", afirma Kátia. "A gente vê que o dono da
fazenda é uma pessoa que tem interesse em ajudar os animais, mas que tem
uma quantidade muito grande que ele não dá conta e o poder público não
ajuda, não dá apoio. Matar os jumentos para o consumo foi a solução
encontrada pela promotoria", ressalta Jacinto.
Os veterinários dizem que a carne de qualquer animal precisa ser
consumida dentro das condições sanitárias e manejo adequado, o que não
estaria acontecendo no caso do consumo dos 600 jumentos em Apodi. "Por
semana morrem cerca de 20 a 25 jumentos nessa fazenda. Morrem de quê? É
de fome? É de doença? Há indícios de que esses animais estejam
contaminados com Botulismo, Brucelose e o temido Mormo. Esta última é
uma doença assintomática no jumento e todas podem ser transmitidas ao
ser humano através do consumo inadequado.
EXTINÇÃO DA ESPÉCIE E CULTURA NORDESTINA
Kléber Jacinto diz que a carne de jumento já foi consumida
anteriormente no Nordeste, por volta dos anos 70. Criadores chegaram a
tentar colocar a carne do animal na cultura gastronômica, mas devido
principalmente a pouca produção e retorno econômico, os próprios
criadores abandonaram esses animais, o que também contribuiu para o
aumento do número deles soltos nas estradas.
Os veterinários temem que a extinção do jumento seja causada pelo o
consumo da carne do animal. Segundo Kátia, existem estudos do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística que comprovam que o número de
jumentos está diminuindo no Brasil. E caso entrem para a alimentação das
pessoas, esse número pode diminuir ainda mais até chegar à extinção,
visto que o animal precisa de um maior tempo para se reproduzir, e cada
fêmea tem apenas um filhote por gestação. "Não tem jumento suficiente",
diz.
Além da questão ambiental, o cultural também conta muito. A
veterinária Kátia diz que o jumento é um símbolo do Nordeste, da cultura
nordestina. "Já é um animal ameaçado de extinção, o número deles é
muito restrito", ressalta.
Foi usando esses e outros argumentos que no ano passado a ONG DNA
juntamente com o Professor Fernando Viana da Associação Brasileira de
Criadores de Jumentos e ainda a União Internacional Protetora dos
Animais (UIPA) do Ceará, conseguiram embargar a exportação de jumentos
para a China.
Para Kléber Jacinto é preciso uma discussão mais aprofundada sobre o
problema. "Quem está acompanhando e examinando esses animais? Qual o
benefício? Vai ser feito um criadouro desses animais? Ou é apenas uma
medida para baratear a alimentação de presos e crianças carentes",
indaga.
Kátia explica também que nas estradas são vistos muitos jumentos
justamente porque esses animais não são consumidos na alimentação
humana. O incentivo ao consumo da carne pode fazer com as pessoas passem
a matar esses animais sem os cuidados necessários, e isso causar a
transmissão de doenças dos equinos.
ONGS
Além da DNA, as ONGS Amigos de Pelo, Patamada, Amimais, Focinhos
Felizes Potiguares e Protetores independentes de todo o RN, assinam uma
carta aberta que expõe o contexto histórico do problema, aponta falhas
na "solução" através do abate e deixa clara a necessidade de discussão
mais profunda acerca do fato.
O fato também mobiliza não somente protetores, mas também a sociedade
em geral. O poeta Jadson Xavier fez versos sobre a questão do consumo
da carne do jumento.
fonte gazeta do oeste
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