“Um sucesso". Essa foi a resposta do promotor Sílvio Brito sobre o
almoço de degustação de carne de jumento, realizado ontem no município
de Apodi. A expectativa em torno do evento era grande, visto que a
aceitação da carne ainda tem opiniões divididas. Com mais de 200
convidados presentes, o encontro reuniu prefeitos, policiais e agentes
penitenciários de várias unidades prisionais do Estado, visto que a
ideia inicial é que o produto seja oferecido no cardápio dos presos do
Rio Grande do Norte. Na churrascaria onde foi realizado o evento, muitos
curiosos foram ao local para experimentar a iguaria.
Durante o almoço, uma opinião foi unânime: a carne do jumento é muito
semelhante à carne bovina e quase imperceptível a diferença. "É uma
carne muito saborosa, macia e, de acordo com o modo de preparo, pode ser
muito suculenta ou um pouco mais seca. É uma carne que eu consumo
tranquilamente caso seja colocada à disposição. Não vejo problema
algum", ressaltou o advogado Osivaldo de Sá Leitão, que é presidente da
Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Secção Mossoró.
O cardápio variado foi uma das surpresas dos convidados que esperavam
o churrasco como prato principal. Escondidinho, bife ao molho madeira e
outro ao molho branco também fizeram parte do menu asinino acompanhados
de salada e arroz refogado. A semelhança com a carne bovina não é
perceptível apenas no sabor, mas no visual e cheiro também.
Prefeitos, vereadores e agentes penitenciários também compartilham da
mesma opinião de que a carne é muito saborosa. O agente penitenciário
Márcio Morais, que é diretor do Centro de Detenção Provisória (CDP) de
Apodi elogiou o cardápio e garante que será muito bem vindo à unidade
que dirige. "Caso seja autorizada a inclusão dessa carne nas refeições
dos presos, sem dúvida será bem vida. Eles estão na expectativa para
experimentar", disse.
O promotor Sílvio Brito comemorou o resultado do evento e afirma que
agora, mais do que nunca, é hora de os municípios se unirem para
garantir os cuidados e a manutenção desses animais na fazenda da
Associação de Proteção aos Animais (APA). "Fiz questão de organizar esse
almoço para mostrar à sociedade que é possível sim o consumo da carne
do jumento quando observadas e respeitadas todas as normas de saúde e
segurança para o abate desses animais. Não seríamos irresponsáveis ao
ponto de servir uma carne que oferecesse riscos à população", garante o
promotor.
Segundo ele, o animal que foi abatido para o almoço de ontem passou
por avaliações e exames, recebeu vacinas e foi acompanhado durante
quatro meses para comprovar a qualidade e garantir o consumo. O promotor
relata ainda que se criou um mal-entendido da população em achar que os
animais que foram apreendidos já serão abatidos. "Isso não vai
acontecer. Caso os animais forem mesmo ser abatidos, será observado o
tempo para a quarentena deste animal que passará por avaliação médica e
obedecerá todas as exigências sanitárias que qualquer carne necessita",
destaca.
Associação tem buscado melhorias para fazenda
A partir de uma audiência pública realizada no ano passado, na
Promotoria de Apodi, para tratar a questão dos animais nas estradas
surgiu a Associação de Proteção de Animais (APA). Desde então, vem sendo
realizado um trabalho com as polícias rodoviárias federal e estadual.
Até agora a entidade já recebeu mais de 600 animais nas rodovias.
Segundo o presidente da APA, Eribaldo Nobre, mais conhecido como Jesus,
as polícias rodoviárias recolhem os animais num raio de 250 quilômetros
da fazenda onde eles estão sendo abrigados. Com a criação da APA parecia
ter sido resolvida a questão dos jumentos soltos nas rodovias, no
entanto a medida necessita de manutenção para sustentar os animais no
alojamento.
A Promotoria de Justiça tem destinado mais de R$ 30 mil em prestações
pecuniárias de condenações judiciais para comprar medicamentos,
alimentos e montar a infraestrutura das unidades, mas o custo tem cada
vez mais aumentado. "Daqui para o meio do ano, a estimativa é que
estejam alojados mil jumentos e no fim do ano dois mil animais", conclui
o promotor.
Ele acrescenta que o gasto com cada animal sai em média R$ 1,50. "O
jumento possui uma expectativa de vida de 40 anos. Imagine como vamos
sustentar esses animais durante esse tempo todo. Por isso, o abate foi
uma solução pensada", revela.
O presidente da APA destaca que a atual fazenda onde os animais estão
alojados vem passando por algumas mudanças para recebê-los com mais
infraestrutura. Entre as mudanças está a construção de um espaço para a
quarentena dos animais que chegam para que possam ser avaliados,
examinados e vacinados antes de serem colocados em contato com os demais
que já passaram por esse processo. "Essas medidas são necessárias para
que um animal que chegue doente possa entrar em contato com os outros
que estão saudáveis. Caso seja identificado qualquer problema, esse
animal receberá atendimento médico veterinário e será tratado para só
então ser levado para o pasto", ressalta.
A questão do abate é outro ponto que será discutido. "Se pudermos ter
outra alternativa para manter os animais na nossa fazenda isso será
feito, no entanto para que isso ocorra é necessário que os municípios
cheguem junto e nos ajude. Somos uma entidade que defende os animais,
por isso temos que lutar por sua integridade. O abate será uma segunda
opção no caso de não termos condições de criá-los", disse o presidente
da associação.
Conforme levantamento da APA, para alimentar os quase 500 animais que
estão alojados hoje é necessário uma caçamba de ração, sorgo ou palha
de milho que custa em torno de R$300 reais por dia. Além disso,
diariamente são colocados dois sacos de sal mineral. "Por enquanto
estamos recebendo ajuda da Promotoria, mas não sabemos até quando",
acrescenta.
Na atual fazenda que os jumentos são mantidos, a associação recebe o
apoio de profissionais do IFRN para avaliações, exames e vacinação.
gazeta do oeste
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